segunda-feira, 11 de agosto de 2008

Frederico não chegara a nascer. Apesar do forte desejo em recebê-lo, não fora ele quem veio para ficar. Aninhado na liquidosa placenta, boiava antes um ser que ao primeiro assomar agarrou-se às vísceras mais próximas sorvendo delas gordas golfadas de ar.
"Mas o que é isto?!" - questionavam, perturbados, os anciões da tribo - "As vísceras são demasiado cruas e sujas para serem sorvidas desta maneira!! O que vai acontecer a esta espécie se nega uns ovos tão bem estrelados? O que fazer se ele não ficar com o carimbo desta marca na prateleira de cima?!?"
Nos primeiros tempos a coisa até correu bem no seio da tribo. Os ovos eram dissimuladamente impingidos ao Ser-Sorvedoiro-de-Vísceras e todos eram felizes com os seus carimbos nos ombros. As cascas gozavam de boa saúde (nem uma só rachadela!) e o sítio, onde era transformada a merda defecada pela comunidade, morava na sombra de um horizonte anónimo. Tudo corria pelo melhor.
Mas, à medida que as nuvens ficavam mais perto da cabeça do Ser-Sorvedoiro-de-Vísceras, mais o cheiro a merda se intensificava no seu cérebro. Intrigado e acabrunhado por tão mal-estar, começou a questionar todos os que por si passavam acerca do fenómeno nauseabundo:
-"Desculpe, errr... sei que é má-educação interrompê-lo enquanto coça os olhos, mas não lhe cheira mal? É que até estou indisposto com o que me chega ao nariz..." - sem deixar de fazer aquilo que estava a fazer, o Coça-Olhos espreitou aquela voz pelo triângulo dos dedos atirando com um olho e uma sobrancelha perdidos de riso. O Ser-que-Gostava-de-Vísceras continuou então a caminhar ao encontro de alguém mais sensato e menos triangular. (to be continued...)

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