domingo, 24 de maio de 2009

só porque data o ano do meu nascimento

Foi-me preciso descobrir que:
a lógica é a ciência de gerir os rendimentos da estupidez;
os políticos não são inteiramente galinhas porque cacarejam e não põem ovos;
as pastas dos executivos levam dentro aranhas para urdirem as teias que nos imobilizam;
os militantes de todos os partidos têm pele de camisas enforcadas;
a família é um cardume de piranhas ao redor da carcaça de uma vaga sagrada;
a sociologia é uma completa falta de humor perante a decadência;
os gestores destilam um suor frio que nos constipa;
as nações içam as bandeiras para porem o falo a pino e masturbarem-se;
as esquerdas e as direitas resultam do pacto de não inverterem os papéis;
o socialismo é um estratagema para negar aos exploradores o direito ao aparecimento;
o liberalismo é uma manha do Estado para forjar algemas com a liberdade;
os intelectuais são uma chatice com que o Criador não contava;
sendo a educação a providência dos imbecis que são em maior número;
o mundo está imbecilizado pela educação;
o sistema é a creche da debilidade mental e a vala comum da inteligência;
a economia é adquirir-se o vício do fumo porque se comprou um isqueiro;
dos vencidos não reza a história porque se renderam à razão;
para concluir que:
chegou a hora romântica dos deuses nos pedirem a desobediência.
Faço-lhes a vontade.
A partir de hoje, se alguém me quiser encontrar, procure-me entre o riso e a paixão.


NATÁLIA CORREIA,
10 de Janeiro de 1983


terça-feira, 19 de maio de 2009

Ele há coisas do arco da velha. E note-se que o arco da velha tem bastantes coisas. Ou não fosse ele um arco. Se fosse um círculo já as coisas não seriam tantas. Há formas de vida um pouco fechadas em si mesmas.
Isto para dizer que se o JP Simões passasse por mim há dois meses atrás, eu continuaria a somar os traços que descontinuam a estrada. Hoje já lhe teria tirado o chapéu. Ou, mesmo, acenado com a luva rendilhada.


segunda-feira, 18 de maio de 2009

terça-feira, 12 de maio de 2009

Muller fez uma pausa na caçada, para contemplar a série de estrelas.
Até isso principiava a tornar-se familiar.
Escolhera as suas próprias constelações naquele mundo desolador, esquadrinhando o firmamento em busca de padrões de brilho que se adaptassem ao seu gosto singular.

O Labirinto, Robert Silverberg
. . . simplesmente . gosto . muito . muito . muito . bom . gosto . simples . . .


sábado, 9 de maio de 2009

No dia seguinte voltei ao campo devastado.

Depois de andar um bom bocado qual o meu espanto quando, por entre os escombros, tropeço em uma civilização humidificada pelo desejo de galopar superfície fora.

sábado, 2 de maio de 2009

Há momentos da nossa vida em que o cuco e o teco se reúnem para o destecer de mantas e mantas e mantas de revelações. Alturas em que são projectados, de foco bem gigante na nossa fronha, céleres takes de tudo aquilo que temos estado a perder em nome de serpenteantes frustrações.
O não conseguir digerir que os sonhos não acompanham a vida, ou o pensar que não acompanham... Um embaraço que nos amolece... Os olhares que ficaram para trás...

O pouco que referi e tudo o que não disse têm uma certa força bruta. Facilmente somos atirados para um canto onde não passa nada nem ninguém. Um canto com pouca luz, ou mesmo com nenhuma, onde apenas moluscos vão acenando as suas trôpegas batutas aos moribundos sociais.
Mas, afinal, fui eu quem facilitou, fui eu quem entregou o jogo, e isso, meus amigos, é imperdoável. O artigo de uma determinada carta de valores, deixa isso bem claro: "Ao indivíduo, que boceje a todas as oportunidades que por ele passam, é-lhe negado todo e qualquer direito de alegar condescendência pelo seu evitável estado catatónico."

E aqui estou eu, apanhada em cheio pelos Tolerância Zero (ou pela Brigada da Consciência, não sei bem), com uma vida nos braços, a quem vou pedindo mil perdões pelo seu estado. Ela agradece o gesto, mas diz que só acredita em mim quando eu lhe conceder a mão de um futuro bem parecido.

E eu já ando à procura de um.